quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Veja o que a Síria pode fazer com expansão do conflito na Turquia


Damasco – O primeiro "aviso", atiçando o incêndio do problema curdo, não parece ter sensibilizado o governo de Ancara, enquanto o primeiro-ministro turco, Retzep Tayyip Erdogan, tenta passar ao contra-ataque, dialogando com os curdos do PKK e contando com a participação até do Otzalan.

Embora cercado, Bashar Al Assad passou ao segundo "aviso" com fogo de morteiros que atingiu uma cidade fronteiriça turca. É o "troco". Se o governo de Ancara insiste exigindo o pleno apoio aos contrários ao regime, além dos neocolonialistas de praxe, o governo de Damasco transferirá o conflito pra dentro da Turquia, incentivando a insurgência dos curdos turcos, que sonham unificar-se com os curdos do Iraque, Síria e Irã e constituir o Estado curdo independente.

O campo para as represálias sírias existe e é pesadamente carregado pelo passado. É a atual região de Hatai, que antigamente denominava-se Sandzaki de Alexandreta e pertencia à Síria – que de 1918 até 1938 era protetorado da França e que, por iniciativa do então governo francês, foi passada à Turquia (que a rebatizou de Iskenderun) a fim de garantir a aliança franco-turca em vista da iminente guerra.

Nesta região vive hoje importante minoria árabe com forte percentual de cristãos ortodoxos. Aliás, nesta região era sediado até 1938 o Patriarcado Cristão de Antióquia, o qual, para evitar sua subordinação à administração turca, foi transferido para Damasco.

Apoios a Assad

Os morteiros que caíram em território turco não são apenas uma mensagem dura, mas sinalizam, também, a política de Bashar El Assad. O regime cercado dispõe, ainda, de vários e fortes apoios dos alauítas muçulmanos que estão hoje na elite do governo de Damasco, até dos druzos, dos curdos e dos cristãos de diversas doutrinas, com destaque a ortodoxa.

Todos estes segmentos sabem – muito bem, aliás – que em caso de derrubada de Bashar El Assad e a constituição de governo sunita, serão vítimas de violenta limpeza étnica. Além disso, Assad voltou à política tradicional de seu pai que, fundou e apoiou o PKK curdo, de 1984 até 1998 e, mantinha sempre a região de Alexandreta nos mapas oficiais da Síria expostos em todos os serviços públicos do país.

Na Síria, a Turquia brinca com o fogo. Se um eventual futuro governo sunita desfechar ou até tolerar limpeza étnica em detrimento das minorias e, especificamente, dos alauítas muçulmanos, provocará a imediata reação no interior da Turquia, não só dos curdos e dos árabes da Alexandreta-Antióquia, mas, também, dos 15 milhões de turcos alauítas muçulmanos que, historicamente, foram aliados de Mustafá Kemal "Ataturk" ("o pai dos turcos") e do estado laico e sentem que, com o todo-poderoso Erdogan e seu partido AKR têm sido depreciados em cidadãos de segunda categoria, se não em minoria desprezível.

Origem na Arábia

Além de tudo isso, infelizmente, para a Turquia, assim como, para os EUA, e a França que buscam e incentivam a mais rápida derrubada de Assad, um governo sunita aqui em Damasco significará, automaticamente, um incêndio no vizinho Líbano, que é um mosaico de comunidades religiosas, muçulmanas e cristãs.

Na Síria a Turquia brinca com o fogo e, aliás, seu envolvimento nos esforços para derrubar Assad não lhe garante sequer o controle dos contras ao regime, os quais já estão sendo apoiados, armados e sustentados financeiramente pela Arábia Saudita e os Emirados Árabes do Golfo Pérsico, com a cada vez mais sensível presença e participação dos muçulmanos fundamentalistas.

Em outras palavras, a eventual derrubada de Assad e a instituição de regime sunita inaugurará novo capítulo de conflito entre o moderado Islã Político de Retzep Tayyip Erdogan e o fundamentalismo extremista que "exporta" a Arábia Saudita, o qual, estando – de fato – presente na Síria, não hesitará em provocar um incêndio de imprevisíveis consequências, também, dentro da Turquia.

Serbin Argyrowitz

Monitor Mercantil

Fonte: Naval Brasil
Visto em: Um Novo Despertar

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